Como o uso do solo interfere no tratamento de água?

Meio Ambiente, Química analítica, Tratamento de água

Rios nos quais a qualidade da água pode mudar rapidamente são conhecidos como flashy rivers. São fatores que influenciam um hidrograma, que nada mais é do que a representação gráfica da variação da vazão ao longo do tempo em uma seção do curso d’água da bacia, após uma chuva: área, declividade, dimensão/rugosidade do canal, rede de drenagem, forma da bacia e índice de cobertura vegetal.

Influência da vegetação no hidrograma. Fonte: Slideserve / Quennel.

Além disso, bacias com área maior terão um maior volume escoado e, por isso, também uma maior vazão. Maiores declividades implicarão numa maior vazão de pico. Canais menores atenuarão menos as ondas de cheia. Redes de drenagem maior contribuirão para maiores volumes, logo, para hidrogramas mais acentuados. E, em bacias de forma mais alongadas, os efeitos serão menos pronunciados.

Dentre os indicadores comuns para a avaliação desses efeitos, está a turbidez, que ocorre em função de partículas sólidas em suspensão, formando coloides que interferem na propagação da luz pela água, embora não se possa relacionar unicamente a turbidez à sujeira da água, uma vez que há outros interferentes (tamanho das partículas, cor etc.). A unidade comum para turbidez é NTU – Nephelometric Turbidity Unit, e o limite para água potável no Brasil é 5 NTU (uT). Isso mostra a importância da preservação das bacias de abastecimento, como já veremos!

Dados operacionais da ETA (Estação de Tratamento de Água) do Rio Caviúna, no município de Apucarana/PR chegam a registrar, após chuvas intensas, índices de até 15.000 NTU! Considerando-se ainda outros eventos menos intensos, mas não menos desafiadores à operação, os impactos são muitos: inviabilidade do tratamento, perdas no processo, dosagem excessiva de coagulantes, grande geração de lodo, maior desgaste dos componentes eletromecânicos do sistema, maiores riscos de falhas etc. “Subimos o rio inteiro e constatamos que ele se encontra desprotegido”, disse o operador. Os impressionantes registros e o relato do operador motivaram um estudo de caso, com o emprego das técnicas de geoprocessamento.

Bacia de captação do Rio Caviúna. Fonte: O Autor.

Este é o mapa de uso e ocupação do solo da bacia de captação de água do Rio Caviúna. As cores representam as seguintes áreas: em rosa, aglomerações urbanas; em amarelo escuro, agricultura perene; em amarelo claro, agricultura anual; em vermelho, áreas construídas; em verde escuro, floresta nativa; em verde claro, florestas secundárias ou plantios florestais; em um verde ainda mais claro, pastagem/campos. Há também várzeas em verde-musgo e rios/córregos e corpos hídricos em azul escuro. É visível a forte presença antrópica na bacia, inclusive com grande ocupação urbana nas cabeceiras, afluentes desprotegidos, muitas construções próximas aos córregos e um predomínio das atividades agrícolas e agropecuárias: 72% da área total. Áreas urbanas correspondem a 6%. Considerando-se que toda essa área se situa muito próxima a muitas nascentes, esse é um número relevante.

Como resultado, o CN (número de deflúvio) é 84. O CN é uma medida de impermeabilização. Para CN = 100, por exemplo, toda chuva se transforma em escoamento superficial. Outra característica que provavelmente contribui para os altos índices de turbidez na captação é o formato não alongado – ou mais arredondado –, da bacia. Em comparação com a captação do Rio Saí-Guaçu para o sistema em Guaratuba/PR, as áreas para atividades agrícolas e agropecuárias somam 13% e, as áreas urbanas, apenas 0,3%. A turbidez, no caso de Saí-Guaçu, não passa de 15 NTU em eventos extremos! Embora haja preocupação com outros problemas, como altas condutividades, isso é devido a fatores naturais, como a influência das marés, ou águas salobras.

No caso a ETA do Rio Caviúna, fica evidente a necessidade de se reordenar o uso e a ocupação do solo, em favor de um bem maior: o saneamento. Embora não seja uma tarefa fácil, um dos caminhos passa pela criação de um plano de bacias específico, na tentativa de reordenar o espaço, recuperar a vegetação e aplicar os instrumentos da política ambiental disponíveis, como termos de ajustamento de conduta, multas, fiscalizações, monitoramento, estudos ambientais etc. Em relação aos desafios da ETA, o emprego de um turbidímetro online na captação seria um importante aliado do operador, uma vez que ele poderia se antecipar a uma mudança brusca no comportamento do rio, evitando ou minimizando perdas.

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3 comentários em “Como o uso do solo interfere no tratamento de água?”

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