Muitos gestores, das mais diversas áreas, já enfrentaram – ou ainda enfrentam –, o dilema de ter, por um lado, um sistema de gestão robusto em relação aos escopos, aspectos, objetivos, políticas e metas etc. e, por outro, um procedimento pouco confiável, e às vezes até inexistente, de avaliação de desempenho desse sistema. Os KPI’s de consumo de energia mostram atendimento às metas, enquanto que os indicadores de consumo de água mostram o contrário. O que isso diz a respeito do desempenho ambiental da organização? A norma ABNT NBR ISO 14001:2015 cita que a análise e a avaliação do desempenho devem ser confiáveis e reprodutíveis, além de permitir que a organização comunique tendências. Portanto, indicadores de desempenho bem estruturados são mais do que desejáveis, são necessários. A norma ABNT NBR ISO 14031:2015 oferece as diretrizes para a avaliação de desempenho ambiental (ADA).
Entretanto, a mesma norma não estabelece níveis de desempenho, tampouco inclui orientações sobre um método específico para valorizar ou ponderar diferentes tipos de impactos. Ao mesmo tempo, cita que técnicas de agregação e ponderação sejam feitas com cuidado para garantir a sua consistência, e recomenda que haja uma compreensão clara das suposições feitas na manipulação dos dados e sua transformação em indicadores de desempenho. Um dos meios para o atendimento desses pré-requisitos é a utilização de uma matriz AHP – Analytic Hierarchy Process. Trata-se de um método de decisão multicritério e consiste na decomposição da relação entre esses critérios, até que se chegue a uma priorização dos seus indicadores. Destacam-se três pontos:
- Estruturação dos critérios, sendo a estruturação em árvore a mais comum;
- Definição de prioridades através de comparações paritárias;
- Teste de consistência. Ao final das comparações, o método indica se a definição de prioridades é consistente, ou não.
Abaixo segue um exemplo dos diversos indicadores de desempenho operacional (IDO). É recorrente a busca pelo estabelecimento de um indicador global, que pode ser entendido como um problema a ser decomposto, por exemplo, em dois níveis, como critérios (nível 1) e subcritérios (nível 2). Tal estruturação em árvore permite o entendimento do nível 1 nas seguintes categorias: materiais, energia, serviços de apoio, instalações físicas, produtos, serviços fornecidos, resíduos e emissões. Em um nível inferior (nível 2), encontram-se os subcritérios. Para “resíduos”, por exemplo, são os seguintes subcritérios: sólidos/líquidos, perigosos, não perigosos, recicláveis, reutilizáveis.

A definição das prioridades é feita com uma relação entre hierarquizações, tais como se observa na tabela abaixo.

Através de uma série de cálculos matriciais envolvendo autovalores e autovetores – cujos detalhes podem ser conferidos nas referências –, e de um ou dois testes de consistência (IC – Índice de Consistência e/ou RC – Razão de Consistência), chega-se a uma ponderação consistente! Se os testes apontam para uma inconsistência, os julgamentos paritários precisam ser refeitos. Segue um exemplo de aplicação do método aos critérios do nível 1, citados acima.

Análise consistente, com os seguintes resultados de ponderação dos indicadores, de zero a um. A avaliação significa que o indicador de materiais tem importância grande sobre energia, importância muito grande em relação a serviços de apoio, e assim por diante.

Seguindo a estruturação em árvore, aplica-se o modelo aos níveis inferiores, no caso, aos subcritérios do nível 2. Segue um exemplo para o indicador de emissões para dois canteiros de obras, onde um dos projetos prevê a utilização de estacas pré-moldadas para as fundações da instalação (Obra 1), e outro prevê o uso de estacas-raiz, ou concretagem in loco (Obra 2), lembrando que os processos operacionais (projetos, processos, serviços etc.) devem ser levados em conta na análise ou avaliação.
Subcritério | Obra 1 | Obra 2 |
Emissões para o ar | 0,072 | 0,413 |
Efluentes | 0,203 | 0,444 |
Ruídos | 0,483 | 0,097 |
Vibrações | 0,242 | 0,045 |
O exemplo acima demonstra que, para Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) na indústria da construção civil, cada canteiro deve conceber uma ADA à parte, de acordo com as inúmeras especificidades do projeto. E, embora o presente texto foque nas ponderações para indicadores de um SGA, a matriz AHP serve para qualquer outro sistema de gestão, como de qualidade, segurança do trabalho, processos de homologação de fornecedores, indicadores de desempenho, em geral etc.
Assim, se você deseja utilizar o método em seus processos, poderemos compartilhar a planilha em EXCEL utilizada nos exemplos aqui mostrados. A programação prevê até 10 comparações paritárias, um memorial de cálculo detalhado, um teste de consistência, um comando para a limpeza de autovalores e uma indicação de uso. Basta informar o seu e-mail nos comentários. Também podemos ajudá-lo na revisão ou concepção do seu SGA!
Referências
- Norma Técnica ABNT NBR ISO 14001:2015 – Sistemas de gestão ambiental — Requisitos com orientações para uso.
- Norma Técnica ABNT NBR ISO 14031:2015 – Gestão Ambiental – Avaliação de desempenho ambiental – Diretrizes.
- SAATY, T.L. Método de Análise Hierárquica. MAKRON Books, c1991. 367 p.
- VIEIRA, G.H. Análise e comparação dos métodos de decisão multicritério – AHP Clássico e Multiplicativo. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, SP, 2006.
Gostei do artigo, AHP é uma importante ferramenta para decisão na carteira de projetos.
Poderia me enviar a planilha?